O evento aconteceu nos dois semestre de 2018, até então, no jardim do Museu Murillo La Greca situado no bairro do Parnamirim -Recife/PE. A primeira edição aconteceu no Museu Murillo La Greca no dia 10 de março de 2018. A mostra contou com22 artistas entre eles Asia Komarova e Leo Siqueira, Iagor Peres, Letícia Barbosa, Coletivo Boca no Trombone.

Mas, o que significa uma prática desviante?
Talvez primeiro pensar: no que consiste uma prática?

Uma busca que se torna constantemente atual? Que se torna constante atual porque é um pedido ao corpo de sua presença e atividade? Pode uma prática ser uma experiência onde o corpo não seja o centro?

Depois, no que consiste um desvio? Descontinuidade do caminho proposto, uma quebra de expectativas? O desvio de uma placa de desvio "vire à direita" talvez fosse virar em frente. Talvez o desvio da placa de desvio fosse seguir em frente ou talvez levar a placa embaixo dos braços. Talvez fosse parar diante da placa. Talvez fosse virar à direita, caso ninguém virasse.

Numa maré que mistura golpes de estado com colapsos sociais/ambientais: como se contrapor ou refazer o que, aparentemente, está posto? Práticas que desviem do cotidiano talvez sejam uma das formas — ou a forma — já que carregam dentro de si um experimentar outros estados de permanecer e de atuar no mundo. (Existe criação que não seja uma prática desviante?) É entendendo a importância de tais gestos que o museu convida tais praticantes (ou artistas) a compartilharem suas inquietações em derivados formatos. Abrindo o jardim e o entorno, experimentando juntos os limites e aberturas que possam na caber na palavra e instituição "museu", o Práticas Desviantes busca ser esse lugar que ao mesmo tempo é troca e atuação.

Convocatória para ocupação do jardim

“O educativo do Museu Murillo La Greca convida artistas e coletivos a ocuparem o espaço externo do museu com propostas artísticas (vídeos, instalação, vídeo-instalação, performance, poesia visual, grafite, projeto sonoro, intervenção, propostas relacionais, fotografia, gravura, desenho, pintura, colagem e outras experimentações.) que provoquem o debate, ações e reflexões sobre o que afeta o movimento dos corpos, da cidade e dos diferentes modos de vida.

O encontro se dispõe a acolher aqueles que através de seus trabalhos tenham desejo de dialogar sobre as complexidades do mover, do desviar, da deriva, do direito a rua, entre outras questões que atravessam o caminhar cotidiano.

Movimento se torna necessário para construção de relações, logo sentimos a urgência de realizar a convocatória como estratégia de reunir pessoas interessadas ao tema da mobilidade, abarcando suas diferentes dimensões.

Zine do Práticas Desviantes II

Lista de selecionados para o projeto

Práticas Desviantes
no Museu Murillo La Greca - 2018

Práticas Desviantes
última edição online - 2020

Nos propusermos a um exercício aparentemente já sabido, mas verdadeiramente esquecido ou engolido por fantasmas. havia uma dimensão dilatadora nesse exercício em todo seu movimento de corrida e respiração na tentativa de abrir fissuras em determinados códigos. ouviam-se sussurros entre várias vozes/ventos que nos contavam incansavelmente - alguns só vêem pedra, mas não é só pedra não -. alguns enxergam uma escrita em gesto no mundo que percorre a pedra da boca, a pedra do sol, a pedra do segredo, a pedra da lua, a pedra porta do vento, pedras de tantas outras. encontrar a terra na pedra. os mais atentos chamam isso de escrita dos ventos e das águas, ainda recebem contornos de cada bico de pena que come e dorme lá ou de cada musgo que surge ao passar dos tempos. saboreiam o papel como uma manga doce, mas não é manga não. há encontros que precisam ser comidos, devorados para emergirem existências subterrâneas. elas brotam ao reconhecer o próprio suor de cada corpo ou entre o cheiro que surge do mesmo lastro que se faz mel. as pedras choram, tremem e o que é chamado de poesia se torna oco. é simplesmente pouco. pouco ainda para continuarmos o exercício. praticar grafias no mundo, caos-mundo, dobrável e sempre fundo.

O Práticas Desviantes é uma plataforma que teve seu início em 2018 no Museu Murillo La Greca, sua proposta era o diálogo entre museus e vizinhanças, refletindo junto a artistas e visitantes os marcadores sociais que atravessam o Recife e que comumente são díspares raciais e econômicos.

Hoje, o projeto se expande em uma articulação que envolve a saída do espaço institucionalizado como estratégia para discussão de práticas antirracistas a partir do lugar onde se habita. A provocação de artistas negros e indígenas são motes para formações que fortalecem as criações de pensamentos críticos sobre os espaços, as relações de poder presentes nas modificações das paisagens e as transformações do tempo frente às dilatações ecológicas e/ou fundiárias. O projeto envolve a reflexão de práticas e pensamentos disruptivos aos rastros coloniais na maneira de existir, produzir e se relacionar nestes distintos ambientes.

Logo, criou-se o desejo de aprofundar pontos que também perpassam por uma relação biopolítica dos corpos; e como a criação de visualidades e a permanência destas, como força de continuidade é intrínseca à formação de imaginários éticos.