Banzo pode ser um espaço de lembrança. A memória que atravessa sensações que parecem indeglutível ao cotidiano, uma presença inquieta. Algo que ecoa e reverbera. O artista vem do exercício da narrativa urbana com caligrafias desenvolvidas através do pixo que marcam sua pesquisa em relação a símbolos e grafismos. Sua potência de criação é como um mito que circunscreve a esfera da vida, da rua para outros espaços expositivos. Narrativas entrelaçadas nos seus traços que religam uma experiência de corpo desterritorializado, em comunicação com seus próprios sistemas.

Cria-se situações, elas são imagens, de cura e de ressignificação. Os elementos visuais vibram o percurso percorrido pelo artista em uma busca que digerem os tempos e resquícios coloniais que evocam à terra e o mar. No objeto-ficção Bóia, o artista imagina um trânsito de saída, cria táticas de sobrevivência de ancestralidades que sobrevivem para além de navios negreiros. Os objetos instalados na exposição são frutos da linguagem, eles reconstroem histórias possibilitando outras leituras e caminhos sobre o processo de colonização. O brotar de uma comunicação não verbal que se estende para desfazer silenciamentos.

Conceição Evaristo, poeta brasileira, compartilha conosco palavras que abrem um germinar que acompanham o tempo que avança enquanto força "das acontecências do banzo brotará em nós o abraço a vida e seguiremos nossas rotas de sal e mel por entre salmos, Axés e aleluias¨.

Não fragmentando política e religião, nem ética e trabalho, Thiago Costa recorre a Banzo para criar uma constelação de sentidos. Evocando outros artistas nordestinos como o baiano Rubem Valentim que na década de 50 dialogava com seus trabalhos argumentos que seriam aliados para uma luta contra o racismo religioso.

Thiago Costa, negro paraibano, conhecido artisticamente por Thiago Ame Preta. Graduando em Design Gráfico e Artes Visuais, é um artista multimídia e vem desenvolvendo suas atividades na valorização da população negra. Sua arte visita, principalmente, memórias ancestrais, as quais impressionam por traços que exaltam a beleza, o poder e a força que emana da cultura afro-brasileira.

Banzo no Diário de Pernambuco

Banzo
Thiago Costa
Museu Murillo La Greca - 2019